Passei os últimos 26 dias com uma dor que me fez chorar diariamente. É paradoxal mas isso tem me mostrado minha força. Nos últimos 14 estou em repouso absoluto: deitada, no máximo sentada por brevíssimos períodos e ainda assim sentindo (muita) dor. De tomar morfina na veia, usar adesivo opióide e tomar analgésicos. Não tudo ao mesmo tempo, mas às vezes sim. Não houve nenhum dia que não pensei nos lugares que ainda quero conhecer, pros quais quero voltar, as coisas que quero comer, beber...
Como sair por aí não é uma possibilidade nesse momento, resolvi voltar pro blog. Passear num lugar familiar e acolhedor: eu mesma! Fazendo algo que há tempos não faço...
Muito importante registrar que é algo passageiro, graças a Deus nada sem cura ou tratamento, que traga risco a minha vida. Apenas uma situação que exige tempo. Em nenhum momento eu perdi esse referencial, porque mesmo sendo muito ruim estar tão limitada, eu tenho que ser grata. E sou, eu amo muito minha vida!
Claro que 26 dias com esse nível de dor (e sem poder caminhar) levam para lugares inimagináveis e escondidos. E lembrei dessa minha parte aqui, exposta. E, pode até ser efeito das dores 😐, mas confesso que voltei a ler meus posts com um sentimento muito bom de "nossa, que legal isso..." pra logo depois perceber "quem é o cantor?" 😅 Mas gente... hahahah que tchonga! É que aqui nunca teve ghost writer, não, muito ao contrário! Já fui muito ghost writer nessa vida... Esse tempo acabou! (👆 nota para um futuro post)
A solidão desses 26 dias é palpável, imensa. Absurda. E já fui muito sozinha nessa vida, mas a solidão desse retiro forçado num momento em que eu estava muito ativa está gigante! Estava num momento em que sentia, finalmente, a pandemia como encerrada mesmo. De Julho pra cá, essa vinha sendo minha sensação: agora finalmente a pandemia acabou! E nisso, graças a Deus, estava ativa, vivendo lá fora! De repente, a vida acontece e estou eu aqui novamente encerrada, fisicamente. A solidão devora, sabemos bem. Mas aí a trajetória pode tomar outro rumo e não quero ficar nesse lugar, não. Bora andar um pouco mais... (se a cabeça me levou pra tristeza ela também pode me levar pra alegria!)
Como tudo na vida tem outras perspectivas e isso sempre foi um de meus grandes dons, olhar pra tudo e captar o mundo, esse reencontro com essas outras versões de mim está sendo incrível pra aplacar essa busca de sentido. Pra manter o otimismo, inclusive. Pra lembrar da minha força, da minha coragem na vida! Tô voltando! (nesse caso, pra mim mesma!)
E por isso quero deixar registrada uma música que amo: Andança, de Beth Carvalho! Sempre amei essa música, nem acho que haja outra possibilidade, já ouvi com vários sentimentos, mas hoje é auto-dedicada! Tô eu aqui, naquela madrugada insone (apesar do relógio marcar 8 da noite), fazendo aquela dedicatória apaixonada de mim pra mim mesma, com um lembrete: "Ana Paula, às vezes a andança não é física! Vambora mulher!"
Um adendo incrível: eu não conhecia a história dessa música, ano de lançamento, nada... sou muito musical mas pouco conheço de histórias, bastidores...descobri agora que ela é de 1969... como nasci em 77, realmente não tenho ideia da primeira vez que a ouvi... E ela mudou a trajetória da Beth Carvalho, essa mulher maravilhosa demais da conta!!! E a inspiração dos compositores (são 3 homens, mas vamos combinar que é dela, né?) traduz exatamente o que sinto neste momento: não há solidão que me faça, andarilha que sempre fui, deixar de acreditar no amor! E coragem é amor em atividade!
"No passo da estrada, só faço andar (me leva, amor)
Tenho meu amor pra me acompanhar (amor)
Vim de longe léguas, cantando, eu vim (me leva, amor)
Vou, não faço tréguas, sou mesmo assim (Por onde, for quero ser seu par)
Já me fiz a guerra por não saber (me leva, amor)
Que esta terra encerra meu bem-querer (amor)
E jamais termina meu caminhar (me leva, amor)
Só o amor me ensina onde vou chegar
(Por onde for, quero ser seu par)
(Me leva, amor)
(Amor)
(Me leva, amor)"
Sou muito grata ao amor. Sem ele não estaria aqui. A presença do amor nos guia sempre, e por isso sei que chegarei aonde precisar! Meu auto-amor vai me puxar e me acolher! Muito Obrigada Beth Carvalho e "sua Andança"!!! 💖💗💖