sexta-feira, 17 de julho de 2020

Quero ser a última geração que lamenta ser mulher! (Uma releitura de 2014 para 2020)

Escrevi esse texto em Dezembro de 2014...Estamos em 17 de Julho de 2020, 1º ano da quarentena ;) 

No meio das mil #ReflexõesDaQuarentena, vim olhar pra ele (pra essa eu, de 2014), após tanta coisa acontecida, entre elas uma conclusão de mestrado onde defendi a dissertação "Cotas de gênero nas eleições brasileiras", agora, em Abril de 2020, já pelo Google Meet, ainda no início desse novo momento que estamos vivendo. Tive o privilégio (eu os tenho, os reconheço e sou grata por eles) de ser orientada pela Profª Drª Luciana Temer, e como componentes da banca, as incríveis Profª Drª Samantha Meyer-Pflug e Profª Drª Flávia Piovesan e elas me honraram por demais ao me aprovarem com "recomendação de publicação".
Escrevi esse texto em 2014, muito em razão de meus filhos, e acredito que a semente de minha dissertação está aqui. Por eles também atualizo esse texto agora, meio que como um registro de que estive aqui de novo para eles sempre poderem me acessar, essa eu de 2020, no 131º dia que estamos em casa, juntos (olha aí outro privilégio). E eu também, claro. Talvez em 2026 eu venha aqui de novo para me lembrar dessa eu que escreve agora. A gente sempre escreve pra gente mesmo, né? Tá aí, então, sem edição... Como também aprendi no mestrado, sempre queremos mudar algo naquilo que escrevemos, depois de escrito. A gente não conclui um texto, a gente só desiste de ficar mexendo nele. Mas esse aí eu não vou mexer, afinal não posso mudar quem eu fui em 2014. Só posso mudar quem eu sou hoje, e isso eu aprendi na vida mesmo. ;) Muito Obrigada!!!

Se quiser ter certeza, o link do texto original está aqui: http://blogmulheraocubo.blogspot.com/2014/12/sejamos-ultima-geracao-que-lamenta-ser.html

Há muito penso em papéis e gêneros. Criada por uma avó muito mais feminista do que eu imaginava - talvez apenas hoje eu comece a entender seus discursos enquanto tomávamos sorvete - essas questões foram plantadas desde minha primeira infância.

Essas questões se transformaram ao longo de minha vida. E temos, em 2014, uma realidade que discute muito tudo isso.

Tenho lido muito essas moças de vários coletivos feministas, diante de algumas notícias que tem sido publicadas, e a postura delas me fez pensar demais. Vejo a radicalidade, e muitas podem não concordar com minha postura mais branda, mas afirmo que se tivesse que escolher um lado, estou ao lado delas! Sou uma delas, com certeza!

Mas a vida não me deixaria ser tão radical. A maturidade explica um pouco a busca por algo mais sereno. Mas ainda assim, não posso ir contra minha realidade, afinal ao longo da vida encontrei parcerias boas com homens (em todos os aspectos), e o mais importante: tenho dois filhos que nasceram meninos.

Eu sempre quis ser homem. O que mudou isso foram meus filhos e meu marido. Afinal, se não fosse mulher não teria encontrado um parceiro tão corajoso, e através dele pude conceber e trazer ao mundo crianças tão bacanas. Ser homem sempre me pareceu muito mais legal, simples assim.

Não quero isso pras meninas que nasceram depois de mim. Quero que elas gostem de ser mulher porque não há papel definido. Quero que elas sejam mulheres e sejam o que quiserem. Mas já é assim, você pode pensar. Será? 

Vejo que é assim até a página dois. Afinal, chegam os filhos e deixamos de lado nossa vida profissional. Ou os deixamos de lado. Ou não deixamos ninguém de lado. "Só" a nós mesmas. 

Afinal, qual o problema em ceder mais um pouquinho? Daqui a pouco muda o cenário...Não muda, lhe garanto. Sempre haverá uma agenda mais importante que a nossa, algo que achamos mais importante que nossas próprias pautas.

Outro dia perguntei ao meu filho mais velho se ele já pensava o que gostaria de fazer profissionalmente. Deixo claro que não não perguntei para criar expectativa, não era pergunta ao estilo "tio do pavê". Minha ideia era justamente entender o que ele pensava sobre possibilidades. Ele tem 8 anos e claro que há milhões delas (ainda bem!): ser engenheiro, criador de Lego, policial, jogador de futebol, e entre tudo isso e mais mil outras, ele disse que quer ficar em casa com os filhos. Assim como o pai fazia quando eu trabalhava aos finais de semana (tive um emprego em que durante a semana eu trabalhava em casa e ele fora, e nos finais de semana trocávamos os papéis). Assim como eu faço há muito tempo, desde que resolvi bancar esse lance de ser mãe.

Isso me sensibilizou e por isso acredito que essa deveria ser nossa luta por essas gerações!

Quero que meus filhos, seus amigos e amigas cresçam num mundo onde não haja divisões de rótulos. Onde as lojas de brinquedos não sejam segmentadas. Nem as cores. Nem as tarefas. Nem os cargos. E, principalmente, não haja rótulos comportamentais.

Não quero que meu filho continue acreditando que homem não chora. Nem que suas amigas continuem buscando ser lindas, magras, impecáveis, princesas sem celulite. Não quero que continue existindo a crença que há "mulher pra casar" e "mulher pra curtir". Isso faz mal pra todo mundo!

Meu filho mais velho tem exemplos concretos que o fazem ser menos machista. Há muito tempo ele me questionou o fato dos fraldários estarem, em sua grande maioria, nos banheiros femininos. 

Ele refletiu sobre isso porque muitas vezes quem trocou suas fraldas e as de seu irmão não fui eu, e sim o pai, que sempre levou mais jeito com crianças. Eu não sou a pessoa que, nas festas, pega bebês no colo. Tenho medo de deixar cair ou quebrar! Minha cara é muito mais ficar jogando videogame, afinal o game over é de brincadeira! Mas assumo numa boa meu lado dona de casa, porque gosto de cuidar da minha família. E isso precisa ser incongruente?

Também temos amigos que não são casados e que ficam com xs filhxs, de verdade, então meu filho não acha estranho um homem sem mulher cuidar plenamente de suas crias. Ainda bem! 

Por tudo isso, não quero um mundo de raiva, segmentado entre "nós" e "outros". 

Não quero que essas crianças cresçam para serem dominadas. Não digo os meus filhos. Digo todos eles. Nossxs filhxs todxs. Sem gênero. Seria muito utópico pensar em parcerias plenas?

Então, sejamos uma equipe, todas nós. Paremos de lutar umas contra as outras. Paremos de competir, mulherada. Todas sofremos. As que trabalham fora, as que trabalham dentro, as que trabalham mas não tem salário (meu caso atual), as do alto escalão. Estamos sempre abrindo mão de algo valioso para nós em nome do quê? Para subirmos em que pódio? 

Queremos ser melhores do que quem mesmo? Assumamos nossos papéis, falhos, e não sejamos a mulher maravilha. Sejamos a mulher possível dentro de nossa realidade, e contemos umas com as outras.

E tudo isso com amor. Não apenas por outras mulheres. Amor pela humanidade. É isso o que todos nós, seres humanos, precisamos. Parcerias plenas. E essas parcerias, só o amor pode construir. Isso não é uma competição, diria meu filho!

Dessa forma, não posso e não quero ter um discurso de raiva, ou algo que se aproxime da forma de dominação imposta pelos homens até hoje.

Acredito que essa seja a nossa diferença, mulherada! Temos que encontrar o caminho que nos leve às parcerias, e não à dominação. Algumas dirão: mas eles dominam desde sempre! Contaram as Histórias, dominaram as Academias, o mercado de trabalho, os postos de chefia nas empresas e na política, as forças armadas, enfim, todas as áreas ainda estão nas mãos deles. Porque apesar de já sermos maioria numérica, eles ainda detém os melhores salários.

Não vejo os melhores salários ou os cargos de comando como principais entraves. Há mulheres que chegam "lá", e então, ao invés de serem empáticas com suas subordinadas e com o mundo, nos impõem uma visão machista e continuam apenas replicando o modelo já conhecido.

E então o que encontramos, basicamente, são duas posturas: as que não tiveram filhos e não conseguem ser flexíveis com a agenda de uma mãe (e dizem "Alguém em seu cargo não pode deixar uma reunião para ir em festinha de escola de filho") e as que tiveram filhos, mas contam com uma rede de apoio muito boa e já delegaram grande parte da vida dos filhos a terceiros.

Claro que nenhum dos dois caminhos é o melhor. Pois em ambos essas mulheres estão assumindo uma postura que um dia cobrará um preço bem alto. E nem todas estarão preparadas para pagá-lo. Mas isso também é outra história. Para aprofundarmos sobre essa questão, esse texto sobre a dificuldade em ser mãe no Século 21 é ótimo!

Então volto ao ponto principal: temos que ser diferentes. Nosso papel, ao dar a luz, já nos mostra o quanto podemos. Não vamos repetir os padrões impostos até hoje. Sem dominações. Busquemos as parcerias! Sejamos empáticas! 

Onde falta empatia falta humanidade. E algo me diz que temos certa dificuldade em sermos empáticas umas com as outras. Mas isso também rende outro post gigante...

Por enquanto, só queria lembrar 
#somostodasmulheres
#FeminismoéJustiça
#Sororidade
#sóSIMsignificaSIM
#machistasNãopassarão