quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Quero ser a última geração que lamenta ser mulher!

Há muito penso em papéis e gêneros. Criada por uma avó muito mais feminista do que eu imaginava - talvez apenas hoje eu comece a entender seus discursos enquanto tomávamos sorvete - essas questões foram plantadas desde minha primeira infância.

Essas questões se transformaram ao longo de minha vida. E temos, em 2014, uma realidade que discute muito tudo isso.

Tenho lido muito essas moças de vários coletivos feministas, diante de algumas notícias que tem sido publicadas, e a postura delas me fez pensar demais. Vejo a radicalidade, e muitas podem não concordar com minha postura mais branda, mas afirmo que se tivesse que escolher um lado, estou ao lado delas! Sou uma delas, com certeza!

Mas a vida não me deixaria ser tão radical. A maturidade explica um pouco a busca por algo mais sereno. Mas ainda assim, não posso ir contra minha realidade, afinal ao longo da vida encontrei parcerias boas com homens (em todos os aspectos), e o mais importante: tenho dois filhos que nasceram meninos.

Eu sempre quis ser homem. O que mudou isso foram meus filhos e meu marido. Afinal, se não fosse mulher não teria encontrado um parceiro tão corajoso, e através dele pude conceber e trazer ao mundo crianças tão bacanas. Ser homem sempre me pareceu muito mais legal, simples assim.

Não quero isso pras meninas que nasceram depois de mim. Quero que elas gostem de ser mulher porque não há papel definido. Quero que elas sejam mulheres e sejam o que quiserem. Mas já é assim, você pode pensar. Será? 

Vejo que é assim até a página dois. Afinal, chegam os filhos e deixamos de lado nossa vida profissional. Ou os deixamos de lado. Ou não deixamos ninguém de lado. "Só" a nós mesmas. 

Afinal, qual o problema em ceder mais um pouquinho? Daqui a pouco muda o cenário...Não muda, lhe garanto. Sempre haverá uma agenda mais importante que a nossa, algo que achamos mais importante que nossas próprias pautas.

Outro dia perguntei ao meu filho mais velho se ele já pensava o que gostaria de fazer profissionalmente. Deixo claro que não não perguntei para criar expectativa, não era pergunta ao estilo "tio do pavê". Minha ideia era justamente entender o que ele pensava sobre possibilidades. Ele tem 8 anos e claro que há milhões delas (ainda bem!): ser engenheiro, criador de Lego, policial, jogador de futebol, e entre tudo isso e mais mil outras, ele disse que quer ficar em casa com os filhos. Assim como o pai fazia quando eu trabalhava aos finais de semana (tive um emprego em que durante a semana eu trabalhava em casa e ele fora, e nos finais de semana trocávamos os papéis). Assim como eu faço há muito tempo, desde que resolvi bancar esse lance de ser mãe.

Isso me sensibilizou e por isso acredito que essa deveria ser nossa luta por essas gerações!

Quero que meus filhos, seus amigos e amigas cresçam num mundo onde não haja divisões de rótulos. Onde as lojas de brinquedos não sejam segmentadas. Nem as cores. Nem as tarefas. Nem os cargos. E, principalmente, não haja rótulos comportamentais.

Não quero que meu filho continue acreditando que homem não chora. Nem que suas amigas continuem buscando ser lindas, magras, impecáveis, princesas sem celulite. Não quero que continue existindo a crença que há "mulher pra casar" e "mulher pra curtir". Isso faz mal pra todo mundo!

Meu filho mais velho tem exemplos concretos que o fazem ser menos machista. Há muito tempo ele me questionou o fato dos fraldários estarem, em sua grande maioria, nos banheiros femininos. 

Ele refletiu sobre isso porque muitas vezes quem trocou suas fraldas e as de seu irmão não fui eu, e sim o pai, que sempre levou mais jeito com crianças. Eu não sou a pessoa que, nas festas, pega bebês no colo. Tenho medo de deixar cair ou quebrar! Minha cara é muito mais ficar jogando videogame, afinal o game over é de brincadeira! Mas assumo numa boa meu lado dona de casa, porque gosto de cuidar da minha família. E isso precisa ser incongruente?

Também temos amigos que não são casados e que ficam com xs filhxs, de verdade, então meu filho não acha estranho um homem sem mulher cuidar plenamente de suas crias. Ainda bem! 

Por tudo isso, não quero um mundo de raiva, segmentado entre "nós" e "outros". 

Não quero que essas crianças cresçam para serem dominadas. Não digo os meus filhos. Digo todos eles. Nossxs filhxs todxs. Sem gênero. Seria muito utópico pensar em parcerias plenas?

Então, sejamos uma equipe, todas nós. Paremos de lutar umas contra as outras. Paremos de competir, mulherada. Todas sofremos. As que trabalham fora, as que trabalham dentro, as que trabalham mas não tem salário (meu caso atual), as do alto escalão. Estamos sempre abrindo mão de algo valioso para nós em nome do quê? Para subirmos em que pódio? 

Queremos ser melhores do que quem mesmo? Assumamos nossos papéis, falhos, e não sejamos a mulher maravilha. Sejamos a mulher possível dentro de nossa realidade, e contemos umas com as outras.

E tudo isso com amor. Não apenas por outras mulheres. Amor pela humanidade. É isso o que todos nós, seres humanos, precisamos. Parcerias plenas. E essas parcerias, só o amor pode construir. Isso não é uma competição, diria meu filho!

Dessa forma, não posso e não quero ter um discurso de raiva, ou algo que se aproxime da forma de dominação imposta pelos homens até hoje.

Acredito que essa seja a nossa diferença, mulherada! Temos que encontrar o caminho que nos leve às parcerias, e não à dominação. Algumas dirão: mas eles dominam desde sempre! Contaram as Histórias, dominaram as Academias, o mercado de trabalho, os postos de chefia nas empresas e na política, as forças armadas, enfim, todas as áreas ainda estão nas mãos deles. Porque apesar de já sermos maioria numérica, eles ainda detém os melhores salários.

Não vejo os melhores salários ou os cargos de comando como principais entraves. Há mulheres que chegam "lá", e então, ao invés de serem empáticas com suas subordinadas e com o mundo, nos impõem uma visão machista e continuam apenas replicando o modelo já conhecido.

E então o que encontramos, basicamente, são duas posturas: as que não tiveram filhos e não conseguem ser flexíveis com a agenda de uma mãe (e dizem "Alguém em seu cargo não pode deixar uma reunião para ir em festinha de escola de filho") e as que tiveram filhos, mas contam com uma rede de apoio muito boa e já delegaram grande parte da vida dos filhos a terceiros.

Claro que nenhum dos dois caminhos é o melhor. Pois em ambos essas mulheres estão assumindo uma postura que um dia cobrará um preço bem alto. E nem todas estarão preparadas para pagá-lo. Mas isso também é outra história. Para aprofundarmos sobre essa questão, esse texto sobre a dificuldade em ser mãe no Século 21 é ótimo!

Então volto ao ponto principal: temos que ser diferentes. Nosso papel, ao dar a luz, já nos mostra o quanto podemos. Não vamos repetir os padrões impostos até hoje. Sem dominações. Busquemos as parcerias! Sejamos empáticas! 

Onde falta empatia falta humanidade. E algo me diz que temos certa dificuldade em sermos empáticas umas com as outras. Mas isso também rende outro post gigante...

Por enquanto, só queria lembrar 
#somostodasmulheres
#FeminismoéJustiça
#Sororidade
#sóSIMsignificaSIM
#machistasNãopassarão

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Amor e coragem

Inspirada pelo texto "O dia das conversações corajosas", maravilhoso, enviado para mim por minha amiga querida Sueli Issaka, pensei em como o amor e as verdades transformam a vida.

Nesse momento específico estou vivendo uma transição importante.

Já fui muito amorosa, me dizem. Era uma criança amável, dócil, que não dava trabalho aos adultos que cuidavam de mim.

Minha avó, que cuidou de mim desde sempre, foi muito amorosa e agia assim comigo. Foi assim que construiu sua história como já escrevi aquiAlém disso, sempre foi corajosa. E pagou o preço de sua coragem sem buscar culpados externos. Ou seja, estaria eu bem em termos de modelo a ser seguido. 

Claro que não somos influenciados apenas por quem nos cria diretamente. Até porque eu não ficava exclusivamente com ela em minha primeira infancia. Outros modelos de vida também me ajudaram nesse processo de formação. Meus pais biológicos, meu segundo pai, outras pessoas das famílias deles, amigos, professores.

Então, quando tinha 9 anos minha avó foi embora e para mim, naquele momento, o amor foi com ela. Fui obrigada a ter muita coragem. Necessidade mesmo. Encarei. Mas o amor ficou escondido em algum lugar inacessivel para mim.

Tornei-me alguém muito difícil para a maioria das pessoas que lidavam comigo. Parecia que teria raiva do mundo a partir dali.

Assim foi, por muitos anos. Paguei o preço.

Mas a vida, Deus, seja o que for que voce queira por nesse espaço, me deu a chance de resgatar esse amor. E ele aconteceu. Meu marido me ensinou o amor, e meus filhos consolidaram esse resgate.

Então tinha o amor, mas ele era restrito, pois me faltava a coragem. Fui corajosa por muito tempo e estava cansada. Tornei-me medrosa, me desculpava por tudo, me considerava inadequada quase o tempo todo.

E como a vida é muito boa, tive a chance de resgatar essa coragem. E me joguei. Mas agora, sem raiva. Com amor, simplesmente. Isso aconteceu semana passada. Foi a conversa corajosa com amor mais importante de minha vida.

Então Sueli me envia esse texto, um dia após ouvir a frase "Amar é um ato de coragem". Ele fechou o ciclo e me ajuda a afirmar: hoje tenho amor e coragem. Combinação difícil e que demorei muito pra entender que estava dentro de mim. 

Com isso não quero dizer que atinji a perfeição, muito ao contrário. Perfeição não é desse mundo e gosto muito da vida. Quero continuar errando para poder ter chance de consertar. Mas agora, errando em outras coisas. Menos ódio, mais amor.

Resolvi compartilhar tudo isso para dizer que se consegui me livrar da amargura e do ressentimento que por tanto tempo viveu comigo, qualquer um consegue. Todos podemos, basta querer e agir nesse sentido. Tirar o ego da mesa.

Também quis compartilhar para espalhar a ideia das conversas corajosas com amor. São ótimas faxinas que ajudam muito. Fazer de conta que o problema não existe não o resolve, se ele realmente existir. Sou muito grata por ter tido a oportunidade de conversar. Ouvir e falar.

Fácil não é, nem continua sendo. São escolhas conscientes o tempo todo e as parcerias sempre ajudam. No meu caso, meu marido ainda é hours concours. Mas tenho muitas outras parcerias muito especiais!

Acredito que ainda sentirei raiva e entrarei em conflitos. O ego está aqui, ainda, claro. Mas vou trabalhar para ele não dominar minha vida. Caso aconteça, saberei me perdoar e entender o que houve. E me desculpar com quem errei.

Sem dramas. A vida é boa e precisa ser vivida plenamente, com coragem, amor e conversas. As conversas nos dão oportunidade de sermos humanos, como já disse aqui. São trocas. Coragem, amor, falar e ouvir. Essa é a receita.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Culpa serve pra quê? Empodere-se de sua vida!

Um post da Balzaca Materna divulgou uma pesquisa de Harvard que fala basicamente o seguinte: a culpa das mulheres não chegarem aos topos de suas carreiras não é dos filhos, mas sim do marido. A ideia é que a mulher acaba priorizando a carreira dele, ao invés de priorizar a dela.

Não passei nem perto de Harvard e sempre acreditei nisso.

Mas como sempre prefiro fazer, vou um passo além. E fui inspirada a escrever algo que há muito queria falar. Não há culpa na história. Há escolhas mal feitas, porque mal pensadas, e arrependimentos.

E normalmente o arrependimento anda de mãos dadas com a culpa.

Quando escolhemos, e acredito que esteja falando com adultos, sabemos que há um preço. Sempre há. Em qualquer caminho. E normalmente, ao decidirmos sobre algo, costumamos não pensar no preço. É só quando chega a fatura que nos conscientizamos dele. Mas aí já fomos pegos desprevenidos.

Isso acontece o tempo todo. Pode ser que não paguemos o preço por um longo tempo. Mas a fatura sempre chega.

Nesse momento, se a escolha foi consciente, bem planejada, haverá saldo pra quitar o preço exigido.

Mas se a escolha aconteceu e não se ponderou o suficiente para perceber que
as renúncias caberiam na vida, então procuramos alguém para culpar.

Eu tenho certeza que sou responsável pelo que escolhi para mim. Abandonei carreira porque EU seria mais feliz ficando com meus filhos. E nunca poderei culpar ninguém por isso. Nem a mim, principalmente! Porque não há culpa, e sim responsabilidades e consequências!

O que falta é consciência plena quando se opta por um caminho. E quando rola um arrependimento, bora culpar outro por isso? Se a escolha fosse bem pensada, cada um assumiria seus passos e as consequências deles.

Ah, então isso quer dizer que não podemos fazer escolhas erradas?

De jeito nenhum! Isso apenas quer dizer que, feita suas escolhas, assuma suas consequências. Você!

Enquanto entregamos a nossa fatura para alguém pagar, enquanto não assumirmos que apenas nós somos os responsáveis pelo que nos acontece, ficaremos procurando culpados. Exceto claro situações sobre as quais não temos controle, os famosos acidentes, e eles são milhares todos os dias. Mas isso é assunto para outro post gigante.

Por outro lado, se assumirmos nossas responsabilidades quanto aos caminhos que escolhemos, com certeza saberemos lidar com as consequências da escolha. E até mudarmos o trajeto, sem procurar alguém para apontar o dedo.

E quando nesse processo encontramos parcerias, pessoas com as quais podemos compartilhar nossos medos, acertos e erros, aí é bom demais! Eu, ainda bem, e como já disse uma amiga, encontrei um homem bom de verdade, bom em essência, para essa parceria! Então eu assumo. Abandonei minha carreira porque era melhor para mim, naquele momento. E isso não quer dizer que ela estará abandonada para sempre!

E afirmo: demorei muito para chegar nisso. E o amor tem tudo a ver com isso, como já escrevi aqui. A vida foi muito boa e me deu inúmeras chances para perceber que podemos mudar quando quisermos. Basta querer e agir!

E sempre há tempo para lembrar: não tem parceria pronta, nem perfeita! Relacionamentos são construções diárias!

Tomara ainda haja muitas chances para todos nós, porque a vida é boa demais, mas só para quem vive!

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Festa de Natal

Hoje o post é da Convidada Ana Carolina! O perfil de todas As Convidadas você vê aqui.

Em 23 de novembro eu e minha família participamos de uma festa de Natal para crianças num lugar muito especial. 

Antes, eu até poderia achar que seriam "crianças carentes",  mas carência acaba sendo algo muito relativo. Ainda se usa essa expressão ou estaria sendo politicamente incorreto falar isso? O que posso dizer é que, materialmente, a situação que encontrei não é  nem de perto o que convencionamos  chamar de confortável.

E foi uma experiencia incrível para toda a família! Saímos da nossa "bolha" para conhecer um pouco da realidade de muita gente e empatia sempre faz bem.

Minha querida amiga Malu Ramos - uma das voluntárias e tia de uma amiga do meu filho - publicou no facebook um pedido para os amigos apadrinharem crianças doando um brinquedo.  Vi e de imediato quis participar! Mas o melhor é que fomos convidados a participar da festa e como adoramos festas, lá fomos nós!

Eu, meu marido, meus filhos Helena (10 anos) e Heitor (6 anos); a amiga  do Heitor, Isabela (6 anos) e sua mãe, Maria Regina, e a Malu,  claro, que foi quem começou o movimento! 

A ansiedade das crianças era tão grande que nem se importaram em acordar cedo em pleno domingo!

Das diversas abordagens  que poderiam ser feitas sobre essa festa de natal, destacarei a que me chamou mais atenção: criança é criança em qualquer situação e são mesmo todas iguais! 

Helena, Heitor e Isa eram crianças como todas as que estavam lá, independentemente de origem, CEP, escola... Show de mágico, comidinhas, Papai Noel e presentes têm o mesmo significado e encantamento pra qualquer um, seja em um buffet infantil ou  num centro comunitário para crianças e jovens!

Foi  demais ver "nossas" crianças à vontade, totalmente livre de qualquer pré-conceito, brincando, interagindo e felizes ajudando a entregar os presentes para os apadrinhados.

Nossa intenção era mostrar a realidade de crianças que têm tão pouco ou quase nada em termos materiais e até mesmo afetivos, e com isso elas percebessem o quanto são felizes, queridas e abençoadas.

Depois, em casa, conversei com meus filhos sobre isso, queria entender qual foi a percepção deles... Helena, solidária, ficou sensibilizada. Heitor achou "legal tudo" e, sinceramente acredito que nem notou qualquer diferença relevante para ele! Coração puro, o que importava era brincar e se divertir...e assim foi, simples!

Malu, nossos parabéns pelo trabalho tão incrível e  muito obrigada pela oportunidade que nos deu!






Ana Carolina, casada, mãe em tempo integral, mulher em busca de um recomeço...
Quer falar comigo? http://www.facebook.com/anacarolina.secklerhassenpflug ou anacarolsh@hotmail.com

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O aborto e uma opinião #precisamosFALARsobreABORTO

Uma amiga sugeriu: por que não escreve sobre aborto? Tema atual, e totalmente feminino, apesar de ter virado tema de eleição. Segui sua sugestão.

É claro que sou totalmente a favor da descriminalização do aborto. Se sou a favor do aborto, isso é outra história.

Não consigo entender a polêmica eleitoral em torno do assunto, apesar de saber que o objetivo é seduzir as mentes mais obscuras, apenas isso. A descriminalização é necessária, os dados de mulheres mortas em decorrência de abortos mal feitos mostram isso. E temos visto que o aborto ser crime não impede as mulheres de fazê-lo. O problema, por não estar legalizado, são as condições em que mulheres desfavorecidas (financeiramente) o praticam.

Absurdo pensar que a descriminalização fará alguém praticar algo que não quer, isso não existe. É bem óbvio, mas se o uso da cocaína fosse legalizado, você a utilizaria? E não ser legalizado traduz-se em abstinência?

Marqueteiros tentarem vender a idéia que ser a favor do aborto é ser contra a vida não faz sentido, se questionarmos um pouco mais os detalhes em torno disso. A decisão de abortar ou não é única e exclusivamente da mulher, e de seu companheiro, se houver um. Uma religião – seja ela qual for – não pode simplesmente ditar decisões tão íntimas.

Sou mãe, tenho religião e nunca fiz um aborto, mas isso porque nunca fiquei grávida antes da “hora certa”. Quando engravidei, senti-me preparada para ser mãe, apesar de nunca acharmos que somos boas o suficiente, como mães. Mas esse é outro assunto.

E se eu tivesse engravidado num momento em que não poderia, ou de alguém que não se comprometesse a ser pai? Enfim, são tantas as nuances na vida de uma mulher que fazem decidi-la sobre levar ou não uma gravidez adiante, que para mim, e tenho certeza, para muitas mulheres, não faz nenhum sentido ver um assunto desses explorado por marqueteiros eleitorais.

Isso não é campanha eleitoral, para nenhum dos candidatos. É apenas a opinião de uma mulher, que gostaria de ver respeitadas as individualidades e os direitos de cada cidadão, seja qual o partido que nos governe.

E você, o que acha sobre isso?

Escrevi e publiquei o texto acima em Outubro/2010, mas agora, Novembro/2014, a TPM lançou a campanha #precisamosfalarsobreaborto e acredito que vale a pena colocar o assunto na roda, sempre! Desde que escrevi esse texto a vida andou, claro. Tive mais um filho. Agora sou mãe de dois. Publiquei mais dois posts sobre o assunto e mais mulheres morreram por tomar essa decisão. Eu continuo não concordando com isso.  Os candidatos com chances de serem eleitos, nas eleições de 2014, continuaram não querendo falar sobre isso.  Não tenho mais uma religião, agora o que tenho é muita fé. Religiões definitivamente não servem para mim. 

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Conseguiremos conversar?

Há certo tempo ensaiei sair do Facebook, porque tinha me cansado do que andava vendo por lá. Apesar de não ficar mais acessando diariamente e nem postar mais nada, de vez em quando acessava, até pra ficar por dentro das fofocas saber notícias das pessoas, porque ligações são mais raras atualmente.

Neste último mês acessei um pouco mais, depois fiquei mais de 15 dias sem ligar nada e então voltei a dar uma olhada. E fiquei tão mal impressionada que resolvi sair de vez. Tenho visto e lido noticias que mostram que a decepção não é apenas minha. Parece que muitos passaram mal ao acessar as redes.

O Sakamoto, um cara que escreve muitas coisas que eu gosto e que me faz pensar, escreveu algo sobre a importância da diversidade de pensamentos. É bom conviver com pessoas que pensam diferente da gente, isso faz a cabeça ficar ativa e é sempre um bom exercício de empatia.

Eu não sai do Facebook porque as pessoas que estavam em meu feed pensam diferente de mim. Isso realmente não me incomoda, sempre gostei muito de ouvir diversos pontos de vista sobre os assuntos. Sou muito curiosa e acho ótimo tentar - e às vezes conseguir - entender o que o outro pensa. Também mudo de idéia de forma tranquila, não sou apegada às minhas opiniões, se algo ou alguém me fizer perceber que há outro jeito melhor de pensar sobre tanta coisa que acontece.

O que me fez sair foi perceber que ali não há nenhum tipo, nem tentativa, de diálogo. Há apenas discursos, todos inflamados, uma polarização sobre qualquer coisa que se fale. Não sou petista nem tucana, mas criticar o governador de SP equivale querer morar na Venezuela e não votar na Dilma me transforma numa fascista, simples assim. E isso não é só na política. Pode escolher qualquer assunto. Se você come carne odeia todos os animais, se não teve parto normal em casa é vítima de violência obstétrica, e assim vai. Em qualquer assunto, parece que só há um lado: o certo, aquele no qual "eu" acredito. Seja ele qual for, para a maioria das pessoas. Se alguém não pensa como "eu" é burro, imbecil, ladrão, ou qualquer outra forma que desqualifique o diferente.

E como não tenho nenhum interesse em ver apenas em preto ou branco, achei melhor sair e tirar essas pessoas, dentro do possivel, do meu convívio. Os que respeitam opiniões diferentes continuarão sendo meus amigos de qualquer forma. Talvez eu perca alguns acontecimentos, mas tenho certeza que ainda podemos usar o telefone, e-mail e os encontros ao vivo. Qualquer forma de conversa, e não de discurso. Amizade é troca. Amigos, mesmo, são aqueles que se respeitam, e eles não precisam ser iguais para isso.

sábado, 15 de março de 2014

Para a vida fluir

Hoje o post é da Convidada Carol! O perfil de todas as Convidadas você vê aqui.

2014 chegou, num piscar de olhos Abril já está dando o ar da graça e mais uma vez estamos quase na metade do ano.

Quando o ano começa e também quando vai chegando ao fim pensamos em promessas, novos desafios, oportunidades, metas novas, antigas e as que não foram concluídas, sentimento de esperança, de acreditar, aceitar, renovar, ter fé, confiar... Muitas palavras, pensamentos, desejos e votos para que o ano seja inesquecível.

Quanta coisa para pensar e planejar! Será que precisamos esperar o ano terminar ou começar para transformar?  Será que precisamos planejar tanto? Afinal, alguns (ou muitos) acontecimentos são imprevisíveis...

Claro que não é preciso ser radical mas sim encontrar o ponto de equilíbrio para que a vida flua. Planejar sem criar expectativas e ter cautela pois temos uma voz interna que nos assopra uma "dica", mas que muitas vezes ignoramos e por isso precisamos de atenção em nós mesmos para que tenhamos serenidade para recalcular a rota quando houver necessidade.

Enquanto isso é nossa obrigação viver, aceitar os momentos presentes e procurar fazer coisas que nos proporcionem o bem estar porque a felicidade já está dentro de nós!


Carol, publicitária, workaholic e que está aprendendo a sentir cada momento porque a vida é simplesmente incrível! Quer falar comigo? anacarolsp@hotmail.com

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Boas lembranças

Hoje o post é da Convidada Ana Carolina! O perfil de todas As Convidadas você vê aqui.

Quando eu me preparava para escrever um texto sobre as férias escolares nosso gatinho, que já estava doente, morreu. E como contar isso para as crianças?

Minhas crianças com Led e Meg
Parece clichê, mas o Led era mesmo um membro da nossa família. Nos seus últimos momentos me vi em uma das cenas finais de "Marley & eu", quando a personagem de Jennifer Aniston diz que Marley foi o início da família. A minha família também começou assim, há quase 15 anos.

O Led foi diagnosticado com um osteosarcoma (câncer) na face no dia 10/06/13 e faleceu no dia 13/01/14. Foram 7 meses de tratamento oncológico, dedicação e esperança apesar de ser considerado um tumor muito agressivo. E as crianças? Como falar da doença e prepará-los para perda do Led? A decisão foi não esconder nada deles e participá-los, sempre que possível, do tratamento e da evolução da doença. Nesse período o Led era rei, podia tudo, recebia muito mais carinho e as crianças sempre estava com ele.

No veterinário, a despedida
Ele sempre reagiu muito bem ao tratamento, mas, em uma manhã de sábado, com uma crise de dor aguda, foi internado, precisou de oxigênio, teve uma convulsão na noite de domingo, entrou em estado comatoso e na segunda faleceu. Foi tudo muito rápido. No domingo levamos as crianças para vê-lo, não queria admitir, mas já imaginava que era uma despedida... de noite, em casa, nos reunimos e rezamos pedindo à São Francisco que cuidasse bem dele e que acontecesse o que fosse melhor para ele. Já estávamos preparando as crianças para o pior.

Na segunda feira, antes da eutanásia, pedimos para o Heitor (meu caçula de 5 anos) um dos seus cobertorzinhos dizendo que o Led precisava dele porque estava com frio (na verdade, foi usado para enterrá-lo) e ele disse: "claro né, mãe!". O corpinho dele foi enterrado na mata ao lado da casa da minha irmã onde estão todos os animais da família, o que nos conforta, pois estão todos juntos, perto de nós, e as crianças podem "visitá-los" quando quiserem.

Depois de enterrá-lo, voltamos pra casa, era hora de falar com as crianças. A verdade foi dita. O Led estava muito doente, sentia muita dor, nem conseguia ficar mais em pé.... não voltaria mais para casa, havia morrido e teríamos mais uma estrelinha no céu. Eles choraram muito, muito mesmo.... falamos que eles poderiam chorar o quanto quisessem e sempre que tiverem vontade, que a saudade, o amor e as boas lembranças sempre vão existir. Nessa noite dormimos com as crianças... eu e a Helena (minha filha de 9 anos) acordamos chorando, juntas.

No dia seguinte, tive a ideia de cada um da família escrever um recadinho para o Led na lousa que as crianças brincam de escolinha e virá-la para o céu para o Led poder ver. Acho que isso acalmou o nosso coração (e só apagaram a mensagem para brincar depois de um mês e com muita insistência minha).

Agora nossa atenção é toda para a nossa outra gatinha, a Meg, que também está sentindo muita falta do seu companheiro. A saudade é muito grande e sempre existirá, mas não é maior que o amor que sentimos por ele.

Ana Carolina, casada, mãe em tempo integral, mulher em busca de um recomeço...
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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Guest Post: Relações

Hoje o post é da Convidada Sueli! O perfil de todas As Convidadas você vê aqui.

Janeiro já chegou em sua segunda semana...E vou contar um pouco de uma data especial para mim!

16 de janeiro de 1994, 17:30 em SP, e 17 de janeiro de 1994, 5:30 no Japão: sofri um acidente de carro bastante sério, perto da Avenida Paulista. Minha irmã perdeu parte da visão. Eu estava de viagem marcada para o Japão, onde iniciaria os estudos sobre história da arte japonesa em abril do mesmo ano.

Fui para o Japão e o triste episódio ficou no passado. Um ano depois, "coincidentemente", 17 de janeiro de 1995, 5:30h: acontece o terremoto em Kobe. Sim, aquele mesmo que comoveu o mundo! E eu estava lá, em Kobe!

Dois acontecimentos sérios e negativos ocorreram em minha vida no mesmo dia, mês e hora, separados apenas por um ano. Não dá para ignorar a coincidência ou relação da data.

Com essas informações, imaginem como foi a chegada deste dia nos anos seguintes... Por isso, evitava ao máximo pensar e me recolhia. Foi dando certo.

Em maio de 2004, passados pouco mais de dez anos do acidente, descubro que estou grávida! Nascimento previsto para o final de Janeiro de 2005. 

Mas minha filha não quis esperar e resolveu nascer exatamente no dia 17 de janeiro de 2005, dez anos depois da catástrofe do terremoto em Kobe.

Coincidência?

A única certeza que tenho é que 17 de janeiro, uma data temida e que considerava indesejada, teve um re-significado para mim. 

17 de janeiro de 2005, o nascimento de minha filha, o dia mais feliz de minha vida! 

Depois desta data, todo 17 de janeiro é um dia de muita alegria e comemoração! E então, como não pensar sobre as mudanças (boas) da vida?

Sueli Issaka, designer gráfica e ex-workaholic, adora curtir as coisas simples da vida! sueliisaka@uol.com.br