quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Somos refugiados climáticos!

Moramos na cidade de Cotia, região metropolitana de São Paulo. Há exatos 24km da Praça da Sé. Antes morávamos na rua do Masp, região da Avenida Paulista.

Estávamos no oásis de uma grande cidade: livrarias, cafés, restaurantes, teatros, cinemas, médicos. Tudo ao alcance de nossos pés, literalmente. Nosso carro precisava ser ligado de vez em quando para não arriar a bateria, afinal ele era quase um imóvel!

Mas chegam os filhos e com eles as necessidades mudam. O que eu faria com tantas livrarias, restaurantes, cinemas? Precisávamos de um quintal, e viemos atrás dele. Isso aconteceu em 2007.

Chegamos em Cotia. E moramos num local maravilhoso, bucólico, mas que também cobra seu preço. Sempre faltava luz, afinal as chuvas derrubam as árvores e partem os fios. Por ser local afastado, demora para a Eletropaulo agir.

Ficamos um bom tempo sem conexão de internet. Tudo bem, tínhamos a natureza, melhor que as redes sociais!

Também sempre foi comum faltar água. Moramos num local alto e o boom imobiliário começou a acontecer por volta de 2008. Simplificando, a rede de água não era suficiente para aquele monte de gente chegando. Afinal, planejamento urbano é algo que não se vê por aqui!

O trânsito da Raposo Tavares é um horror. Tanto que há uma página sobre ele, ou seja, não é uma sensação, é um fato. Já demorei 2h30m para voltar de um local há apenas 12 km, com duas crianças no carro. Teria chegado em Bertioga! Mas não saí de Cotia! Para ilustrar, além da página, avalie que há vendedores de amendoim na "Rodovia"! Rodovia com vendedor de amendoim já diz tudo, certo?

Então, com tudo isso, você pensa que quero voltar pra São Paulo? De jeito nenhum, não atualmente. Ainda precisamos do quintal e em SP ele custa muito mais do que podemos pagar! Mas já pensei em ir embora daqui, claro, inúmeras vezes. Buscamos a "tal" qualidade de vida. Mas ela é mutável, como tudo na vida. Há épocas que qualidade de vida é ter livrarias, outras um quintal, outras, apenas o básico: água e luz.

Então chegamos em 2014. Começamos o ano com racionamento, apesar do incompetente do governador só afirmar isso ontem! Em 2014, tínhamos 1 dia com água e 1 sem. Como por aqui sempre faltou água, nos adaptamos relativamente bem. Darwin sempre está certo!

Um pouco antes das eleições, a água voltou a ser diária, forte, imponente! Que beleza, alguns inocentes acreditaram que Chuchu falava verdade, que não havia racionamento. Eu, que ainda sou um tanto inocente (afinal acreditei num 2° turno), mas em Papai Noel não acredito mais, pensei: finalizadas as eleições acaba a água novamente! E sem bola de cristal nenhuma, acertei a previsão! 

No domingo a reeleição se concretizou. Eu, atônita (ou inocente?), porque não acredito que vivo no mesmo Estado que essa galera (57,1% foi o índice da reeleição) que acredita que tudo por aqui vai bem, ou seja, Educação, Saúde, Segurança, enfim, está tudo tão bom, que o pensamento é simples: "vamos reeleger esse pessoal que está fazendo tudo tão direitinho desde 1994!"

Na 2ª estávamos sem água. E assim ficamos até 4ª. Até que voltamos ao esquema 1 sim/1 não, com variáveis 1 sim/2 não, até chegarmos ao incrível 1 sim/3 não, agora no final de 2014.

Mas dia 1° de Janeiro chegou, choveu muito, e claro que acabou a luz! Como já aconteceu antes, sabemos que quando falta luz por muito tempo, a água também cessará, pois o abastecimento de água depende da luz! Isso é que é planejamento urbano, certo?

No total ficamos 30 horas sem luz. E já estávamos há 2 dias sem água. A Sabesp dizia que demoraria mais 3 para a água voltar. Fomos embora para Jundiaí, onde tenho parentes. Levamos o estoque da geladeira, a cachorra e nossa roupa suja.

Mas não dá para simplesmente se alojar na casa das pessoas. Somos 2 adultos, 2 crianças sadias e barulhentas, claro, e 1 cachorra que acha que é caçadora, então late até pra mosca!

E quase 8 dias depois, voltamos. Chegamos no Sábado e tínhamos água! Que beleza! Como dizia Chuchu, não há racionamento!!! Mas Domingo, dia 11/01, a água acabou novamente. E assim ficamos, até ontem, 4ª feira, quando a água voltou por cerca de 3 horas! E acabou de novo...

Então ontem acontece "o milagre", finalmente Chuchu admitiu que há racionamento! Ainda haverá eleitores achando essa declaração o máximo, tenho certeza, algo do tipo "Nossa, que corajoso!". Estelionato eleitoral, isso sim! Mas se aconteceu esse milagre, quem sabe as águas de Março fechem o verão também, certo?

Apesar de não sermos cúmplice, somos, eu e minha família, vítimas dessa fraude eleitoreira. Até pedi um banho no Palácio dos Bandeirantes, afinal em Palácio não deve faltar água! Mas declinaram meu "convite"... Eu entendo, a aristocracia não gosta de se misturar...Como eles fariam, após a nossa visita? Não daria pra desinfetar tudo... Como dizia Justo Veríssimo, do gênio Chico Anysio, e me parece que outros por aí têm falado, "odeio pobre!".

E assim estamos. Moradores da região metropolitana de São Paulo, que reelegeu esse incompetente com 56,81% dos votos (índice de Cotia), nos tornamos refugiados climáticos, de acordo com esse estudo. Agora buscamos refúgio, não mais para achar sossego ou quintal. Agora iremos atrás de infra-estrutura, simplesmente. Se conhecer um local com tudo isso, pode indicar! Preferimos o Brasil, claro, afinal ainda não desistimos dele! Somos inocentes, ou "apenas" esperançosos?