quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Quero ser a última geração que lamenta ser mulher!

Há muito penso em papéis e gêneros. Criada por uma avó muito mais feminista do que eu imaginava - talvez apenas hoje eu comece a entender seus discursos enquanto tomávamos sorvete - essas questões foram plantadas desde minha primeira infância.

Essas questões se transformaram ao longo de minha vida. E temos, em 2014, uma realidade que discute muito tudo isso.

Tenho lido muito essas moças de vários coletivos feministas, diante de algumas notícias que tem sido publicadas, e a postura delas me fez pensar demais. Vejo a radicalidade, e muitas podem não concordar com minha postura mais branda, mas afirmo que se tivesse que escolher um lado, estou ao lado delas! Sou uma delas, com certeza!

Mas a vida não me deixaria ser tão radical. A maturidade explica um pouco a busca por algo mais sereno. Mas ainda assim, não posso ir contra minha realidade, afinal ao longo da vida encontrei parcerias boas com homens (em todos os aspectos), e o mais importante: tenho dois filhos que nasceram meninos.

Eu sempre quis ser homem. O que mudou isso foram meus filhos e meu marido. Afinal, se não fosse mulher não teria encontrado um parceiro tão corajoso, e através dele pude conceber e trazer ao mundo crianças tão bacanas. Ser homem sempre me pareceu muito mais legal, simples assim.

Não quero isso pras meninas que nasceram depois de mim. Quero que elas gostem de ser mulher porque não há papel definido. Quero que elas sejam mulheres e sejam o que quiserem. Mas já é assim, você pode pensar. Será? 

Vejo que é assim até a página dois. Afinal, chegam os filhos e deixamos de lado nossa vida profissional. Ou os deixamos de lado. Ou não deixamos ninguém de lado. "Só" a nós mesmas. 

Afinal, qual o problema em ceder mais um pouquinho? Daqui a pouco muda o cenário...Não muda, lhe garanto. Sempre haverá uma agenda mais importante que a nossa, algo que achamos mais importante que nossas próprias pautas.

Outro dia perguntei ao meu filho mais velho se ele já pensava o que gostaria de fazer profissionalmente. Deixo claro que não não perguntei para criar expectativa, não era pergunta ao estilo "tio do pavê". Minha ideia era justamente entender o que ele pensava sobre possibilidades. Ele tem 8 anos e claro que há milhões delas (ainda bem!): ser engenheiro, criador de Lego, policial, jogador de futebol, e entre tudo isso e mais mil outras, ele disse que quer ficar em casa com os filhos. Assim como o pai fazia quando eu trabalhava aos finais de semana (tive um emprego em que durante a semana eu trabalhava em casa e ele fora, e nos finais de semana trocávamos os papéis). Assim como eu faço há muito tempo, desde que resolvi bancar esse lance de ser mãe.

Isso me sensibilizou e por isso acredito que essa deveria ser nossa luta por essas gerações!

Quero que meus filhos, seus amigos e amigas cresçam num mundo onde não haja divisões de rótulos. Onde as lojas de brinquedos não sejam segmentadas. Nem as cores. Nem as tarefas. Nem os cargos. E, principalmente, não haja rótulos comportamentais.

Não quero que meu filho continue acreditando que homem não chora. Nem que suas amigas continuem buscando ser lindas, magras, impecáveis, princesas sem celulite. Não quero que continue existindo a crença que há "mulher pra casar" e "mulher pra curtir". Isso faz mal pra todo mundo!

Meu filho mais velho tem exemplos concretos que o fazem ser menos machista. Há muito tempo ele me questionou o fato dos fraldários estarem, em sua grande maioria, nos banheiros femininos. 

Ele refletiu sobre isso porque muitas vezes quem trocou suas fraldas e as de seu irmão não fui eu, e sim o pai, que sempre levou mais jeito com crianças. Eu não sou a pessoa que, nas festas, pega bebês no colo. Tenho medo de deixar cair ou quebrar! Minha cara é muito mais ficar jogando videogame, afinal o game over é de brincadeira! Mas assumo numa boa meu lado dona de casa, porque gosto de cuidar da minha família. E isso precisa ser incongruente?

Também temos amigos que não são casados e que ficam com xs filhxs, de verdade, então meu filho não acha estranho um homem sem mulher cuidar plenamente de suas crias. Ainda bem! 

Por tudo isso, não quero um mundo de raiva, segmentado entre "nós" e "outros". 

Não quero que essas crianças cresçam para serem dominadas. Não digo os meus filhos. Digo todos eles. Nossxs filhxs todxs. Sem gênero. Seria muito utópico pensar em parcerias plenas?

Então, sejamos uma equipe, todas nós. Paremos de lutar umas contra as outras. Paremos de competir, mulherada. Todas sofremos. As que trabalham fora, as que trabalham dentro, as que trabalham mas não tem salário (meu caso atual), as do alto escalão. Estamos sempre abrindo mão de algo valioso para nós em nome do quê? Para subirmos em que pódio? 

Queremos ser melhores do que quem mesmo? Assumamos nossos papéis, falhos, e não sejamos a mulher maravilha. Sejamos a mulher possível dentro de nossa realidade, e contemos umas com as outras.

E tudo isso com amor. Não apenas por outras mulheres. Amor pela humanidade. É isso o que todos nós, seres humanos, precisamos. Parcerias plenas. E essas parcerias, só o amor pode construir. Isso não é uma competição, diria meu filho!

Dessa forma, não posso e não quero ter um discurso de raiva, ou algo que se aproxime da forma de dominação imposta pelos homens até hoje.

Acredito que essa seja a nossa diferença, mulherada! Temos que encontrar o caminho que nos leve às parcerias, e não à dominação. Algumas dirão: mas eles dominam desde sempre! Contaram as Histórias, dominaram as Academias, o mercado de trabalho, os postos de chefia nas empresas e na política, as forças armadas, enfim, todas as áreas ainda estão nas mãos deles. Porque apesar de já sermos maioria numérica, eles ainda detém os melhores salários.

Não vejo os melhores salários ou os cargos de comando como principais entraves. Há mulheres que chegam "lá", e então, ao invés de serem empáticas com suas subordinadas e com o mundo, nos impõem uma visão machista e continuam apenas replicando o modelo já conhecido.

E então o que encontramos, basicamente, são duas posturas: as que não tiveram filhos e não conseguem ser flexíveis com a agenda de uma mãe (e dizem "Alguém em seu cargo não pode deixar uma reunião para ir em festinha de escola de filho") e as que tiveram filhos, mas contam com uma rede de apoio muito boa e já delegaram grande parte da vida dos filhos a terceiros.

Claro que nenhum dos dois caminhos é o melhor. Pois em ambos essas mulheres estão assumindo uma postura que um dia cobrará um preço bem alto. E nem todas estarão preparadas para pagá-lo. Mas isso também é outra história. Para aprofundarmos sobre essa questão, esse texto sobre a dificuldade em ser mãe no Século 21 é ótimo!

Então volto ao ponto principal: temos que ser diferentes. Nosso papel, ao dar a luz, já nos mostra o quanto podemos. Não vamos repetir os padrões impostos até hoje. Sem dominações. Busquemos as parcerias! Sejamos empáticas! 

Onde falta empatia falta humanidade. E algo me diz que temos certa dificuldade em sermos empáticas umas com as outras. Mas isso também rende outro post gigante...

Por enquanto, só queria lembrar 
#somostodasmulheres
#FeminismoéJustiça
#Sororidade
#sóSIMsignificaSIM
#machistasNãopassarão

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Amor e coragem

Inspirada pelo texto "O dia das conversações corajosas", maravilhoso, enviado para mim por minha amiga querida Sueli Issaka, pensei em como o amor e as verdades transformam a vida.

Nesse momento específico estou vivendo uma transição importante.

Já fui muito amorosa, me dizem. Era uma criança amável, dócil, que não dava trabalho aos adultos que cuidavam de mim.

Minha avó, que cuidou de mim desde sempre, foi muito amorosa e agia assim comigo. Foi assim que construiu sua história como já escrevi aquiAlém disso, sempre foi corajosa. E pagou o preço de sua coragem sem buscar culpados externos. Ou seja, estaria eu bem em termos de modelo a ser seguido. 

Claro que não somos influenciados apenas por quem nos cria diretamente. Até porque eu não ficava exclusivamente com ela em minha primeira infancia. Outros modelos de vida também me ajudaram nesse processo de formação. Meus pais biológicos, meu segundo pai, outras pessoas das famílias deles, amigos, professores.

Então, quando tinha 9 anos minha avó foi embora e para mim, naquele momento, o amor foi com ela. Fui obrigada a ter muita coragem. Necessidade mesmo. Encarei. Mas o amor ficou escondido em algum lugar inacessivel para mim.

Tornei-me alguém muito difícil para a maioria das pessoas que lidavam comigo. Parecia que teria raiva do mundo a partir dali.

Assim foi, por muitos anos. Paguei o preço.

Mas a vida, Deus, seja o que for que voce queira por nesse espaço, me deu a chance de resgatar esse amor. E ele aconteceu. Meu marido me ensinou o amor, e meus filhos consolidaram esse resgate.

Então tinha o amor, mas ele era restrito, pois me faltava a coragem. Fui corajosa por muito tempo e estava cansada. Tornei-me medrosa, me desculpava por tudo, me considerava inadequada quase o tempo todo.

E como a vida é muito boa, tive a chance de resgatar essa coragem. E me joguei. Mas agora, sem raiva. Com amor, simplesmente. Isso aconteceu semana passada. Foi a conversa corajosa com amor mais importante de minha vida.

Então Sueli me envia esse texto, um dia após ouvir a frase "Amar é um ato de coragem". Ele fechou o ciclo e me ajuda a afirmar: hoje tenho amor e coragem. Combinação difícil e que demorei muito pra entender que estava dentro de mim. 

Com isso não quero dizer que atinji a perfeição, muito ao contrário. Perfeição não é desse mundo e gosto muito da vida. Quero continuar errando para poder ter chance de consertar. Mas agora, errando em outras coisas. Menos ódio, mais amor.

Resolvi compartilhar tudo isso para dizer que se consegui me livrar da amargura e do ressentimento que por tanto tempo viveu comigo, qualquer um consegue. Todos podemos, basta querer e agir nesse sentido. Tirar o ego da mesa.

Também quis compartilhar para espalhar a ideia das conversas corajosas com amor. São ótimas faxinas que ajudam muito. Fazer de conta que o problema não existe não o resolve, se ele realmente existir. Sou muito grata por ter tido a oportunidade de conversar. Ouvir e falar.

Fácil não é, nem continua sendo. São escolhas conscientes o tempo todo e as parcerias sempre ajudam. No meu caso, meu marido ainda é hours concours. Mas tenho muitas outras parcerias muito especiais!

Acredito que ainda sentirei raiva e entrarei em conflitos. O ego está aqui, ainda, claro. Mas vou trabalhar para ele não dominar minha vida. Caso aconteça, saberei me perdoar e entender o que houve. E me desculpar com quem errei.

Sem dramas. A vida é boa e precisa ser vivida plenamente, com coragem, amor e conversas. As conversas nos dão oportunidade de sermos humanos, como já disse aqui. São trocas. Coragem, amor, falar e ouvir. Essa é a receita.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Culpa serve pra quê? Empodere-se de sua vida!

Um post da Balzaca Materna divulgou uma pesquisa de Harvard que fala basicamente o seguinte: a culpa das mulheres não chegarem aos topos de suas carreiras não é dos filhos, mas sim do marido. A ideia é que a mulher acaba priorizando a carreira dele, ao invés de priorizar a dela.

Não passei nem perto de Harvard e sempre acreditei nisso.

Mas como sempre prefiro fazer, vou um passo além. E fui inspirada a escrever algo que há muito queria falar. Não há culpa na história. Há escolhas mal feitas, porque mal pensadas, e arrependimentos.

E normalmente o arrependimento anda de mãos dadas com a culpa.

Quando escolhemos, e acredito que esteja falando com adultos, sabemos que há um preço. Sempre há. Em qualquer caminho. E normalmente, ao decidirmos sobre algo, costumamos não pensar no preço. É só quando chega a fatura que nos conscientizamos dele. Mas aí já fomos pegos desprevenidos.

Isso acontece o tempo todo. Pode ser que não paguemos o preço por um longo tempo. Mas a fatura sempre chega.

Nesse momento, se a escolha foi consciente, bem planejada, haverá saldo pra quitar o preço exigido.

Mas se a escolha aconteceu e não se ponderou o suficiente para perceber que
as renúncias caberiam na vida, então procuramos alguém para culpar.

Eu tenho certeza que sou responsável pelo que escolhi para mim. Abandonei carreira porque EU seria mais feliz ficando com meus filhos. E nunca poderei culpar ninguém por isso. Nem a mim, principalmente! Porque não há culpa, e sim responsabilidades e consequências!

O que falta é consciência plena quando se opta por um caminho. E quando rola um arrependimento, bora culpar outro por isso? Se a escolha fosse bem pensada, cada um assumiria seus passos e as consequências deles.

Ah, então isso quer dizer que não podemos fazer escolhas erradas?

De jeito nenhum! Isso apenas quer dizer que, feita suas escolhas, assuma suas consequências. Você!

Enquanto entregamos a nossa fatura para alguém pagar, enquanto não assumirmos que apenas nós somos os responsáveis pelo que nos acontece, ficaremos procurando culpados. Exceto claro situações sobre as quais não temos controle, os famosos acidentes, e eles são milhares todos os dias. Mas isso é assunto para outro post gigante.

Por outro lado, se assumirmos nossas responsabilidades quanto aos caminhos que escolhemos, com certeza saberemos lidar com as consequências da escolha. E até mudarmos o trajeto, sem procurar alguém para apontar o dedo.

E quando nesse processo encontramos parcerias, pessoas com as quais podemos compartilhar nossos medos, acertos e erros, aí é bom demais! Eu, ainda bem, e como já disse uma amiga, encontrei um homem bom de verdade, bom em essência, para essa parceria! Então eu assumo. Abandonei minha carreira porque era melhor para mim, naquele momento. E isso não quer dizer que ela estará abandonada para sempre!

E afirmo: demorei muito para chegar nisso. E o amor tem tudo a ver com isso, como já escrevi aqui. A vida foi muito boa e me deu inúmeras chances para perceber que podemos mudar quando quisermos. Basta querer e agir!

E sempre há tempo para lembrar: não tem parceria pronta, nem perfeita! Relacionamentos são construções diárias!

Tomara ainda haja muitas chances para todos nós, porque a vida é boa demais, mas só para quem vive!