quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Onde você guarda seu preconceito?

Há épocas em que tantos assuntos acontecem... É claro que você sabe tudo sobre o caso "Mayara Petruso". Muito se falou sobre isso, todos indignados com a postura da moça. Mas alguém lembrou dos próprios preconceitos?

Todos temos os nossos. Eu, infelizmente, não posso negar que ainda os tenho. Iluminado aquele que não tem nenhum, ainda não conheci ninguém assim. Lembro-me de uma campanha do MPF que perguntava "Onde você guarda seu preconceito?". As respostas eram as mais variadas, mas no final a campanha dizia algo assim: "Não guarde seu preconceito em lugar nenhum. Faça melhor: não o tenha!".

Aquele tapa na cara. Foi assim que senti, na primeira vez em que vi a campanha.

O preconceito que a estudante demonstrou foi tão absurdo, de uma ignorância tão brutal, que deixou todos indignados, apesar de haver uma parcela que ainda defende a opinião dela (tal como "Movimento São Paulo para paulistas").

Tenho meus preconceitos, e quero lutar contra eles. Garanto que meu preconceito não é como o da moça em questão, nem os demonstro por aí. Em resposta à propaganda, diria que guardo meus preconceitos dentro da minha cabeça, e tento nunca tirá-los de lá. Até porque hoje tenho a responsabilidade de criar uma pessoa, e gostaria muito de não transmitir isso para ele.

Muitas vezes não se tem preconceito contra a origem de alguém, mas com sua profissão, suas roupas, local onde mora, ou por seu comportamento.

E li muitas críticas também pelo fato dela ser uma estudante de Direito. Como advogada (que não exerce mas paga OAB), já ouvi coisas terríveis de amigos, tal como "advogado não presta, advogado é um horror" e até um "de jeito nenhum quero que meu filho seja advogado".

Que ótimo seria para o mundo se os que não têm caráter fossem instados a uma profissão exclusiva. Infelizmente, não é assim. Há canalhas médicos, jornalistas, professores, atletas, enfim, muitas vezes são advogados também, mas infelizmente, não são apenas.

Enfim, péssimo que a moça seja uma estudante de Direito, mas pior ainda é ela, como ser humano mais esclarecido que deveria ser, por ter certa formação cultural, sentir e demonstrar algo tão grotesco.

Mas fiquemos com o bom de tudo isso: as pessoas se indignaram, virou assunto, e ainda nos choca alguém pensar assim.

Eu, como disse, continuarei lutando contra os meus. E você, está livre de preconceitos? Não julga ninguém, antes de conhecê-lo de verdade? Está livre de julgar apenas pelo que é mostrado, tal como uma roupa, um carro ou uma profissão?

Vamos tentar não esconder mais nossos preconceitos, em lugar nenhum?

2 comentários:

  1. Infelizmente ele existe.Sobrevive em cada um de nós em formas diferentes de manifestação.Acredito sermos todos, de alguma maneira preconceituosos e isso, digo a mim mesma, é a forma mais indigna de olhar o outro, esteja e seja ele aonde estiver ou como for. Também, como você, procuro guardar os meus em alguma gaveta da qual só eu tenho a chave, mas não mostro a ninguém. Tenho vergonha em senti-los. E quando me deparo com alguns deles (é, são vários, não nego) tento domá-los e mostar que a forma melhor de não te-los é enfrentá-los. Difícil! A "coisa" parece fazer parte da vida que vivemos ou a que nos propusemos viver. Eu não conheço ninguém que não tenha algum,ainda que camuflado, mascarado, enfeitado, ele está ali aos berros para os mais sensíveis poderem enxergar. Preferível não os te-los do que esconde-los.Tomara, um dia, a gente chegue lá.Realmente, cultura não é sinal de inteligência. Também me vigio quando me percebo julgando preconceituosamente e espero chegar o dia em que jogarei a chave dessa gaveta aonde guardo o que jamais deveria existir.

    ResponderExcluir
  2. FANTÁSTICO texto! Você disse tudo o que eu penso sobre o assunto. Costumo dizer às pessoas que odeio todos os tipos de preconceitos, inclusive os meus. Porque todo mundo os tem. Somos seres humandos, ora, imperfeitos por natureza. Afortunados aqueles que, como nós, têm consciência dos seus e lutam contra eles. Os reconhecem como defeitos.

    Quanto ao que você relatou que já ouviu por ser advogada, lembrei de um fato que aconteceu no trabalho a pouco tempo. Estávamos um grupo de pessoas assistindo a uma palestra de um representante da Polícia Federal. Um homem sério, distinto, uma autoridade, mas com muito senso de humor. Estava falando sobre o combate ao tráfico e o porquê de ser tão importante o controle da importação e exportação de determinadas substâncias químicas utilizadas no refino das mais variadas drogas. Lá pelas tantas, um colega metido a político e que adora aparecer, começou a questionar, quase inquirir o policial, e acabou acusando toda a polícia de corrupção. Nosso palestrante sorriu e com toda calma e classe do mundo respondeu:

    Eu costumo dizer que a corrupção está no indivíduo, e não na sua profissão. Se o indivíduo tiver a corrupção dentro de si, não importa o que ele vá fazer, em que área vá trabalhar, ele será corrupto. Quem é honesto e tem convicção no que faz, não precisa dar satisfações a ninguém, pois tem a consciência e a ficha limpa.

    Eu só faltei levantar da cadeira e aplaudir.

    Desculpa se o comentário ficou longo, mas é que me emplguei com o assunto!

    Bjs!

    ResponderExcluir